31 outubro 2008

Petição Terminal de Alcântara

A ampliação da capacidade do terminal de contentores de Alcântara que o Governo inoportunamente se propõe levar por diante implicará a criação de uma muralha com cerca de 1,5 quilómetros com 12 a 15 metros de altura entre a Cidade de Lisboa e o Rio Tejo.
A zona de Alcântara estará sujeita a obras durante um período previsto de 6 anos, impossibilitando assim a população de aceder ao rio pelas “Docas”, levando ao fecho de toda a actividade lúdica desta zona, pondo em risco 700 postos de trabalho.
Os terminais de contentores existentes nos portos de Portugal no final de 2006 tinham o dobro da capacidade necessária para satisfazer a procura do mercado.
O Tribunal de Contas em relatório de Setembro de 2007 sublinhava que a Administração do Porto de Lisboa (APL) é líder no movimento de carga contentorizada em Portugal, e apresenta desafogadas capacidades instaladas e disponíveis, para fazer face a eventuais crescimentos do movimento de contentores.
A prorrogação da concessão do terminal de contentores de Alcântara até 2042 que o Governo pretende concretizar com o Decreto-Lei n.º 188/2008, de 23 de Setembro, e que prevê a triplicação da sua capacidade afigura-se assim completamente incompreensível, desnecessária, e inaceitável para mais sem concurso público.
Apesar da lei prever 30 anos para a duração máxima das concessões, com esta prorrogação a duração desta concessão será na prática, de 57 anos, o que, tal como o Tribunal de Contas sublinha, impede os benefícios da livre concorrência por encerrar o mercado por períodos de tempo excessivamente longos.
Com esta decisão do Governo perde a Cidade de Lisboa, perdem os cofres públicos, perde o sistema portuário nacional, no fundo perdem os portugueses.
Em face do exposto, os abaixo-assinados vêm pelo presente meio solicitar à Assembleia da República que sejam tomadas as medidas necessárias para impedir este atentado estético e económico contra o País, contra Lisboa e contra os seus cidadãos, revogando o DL n.º 188/2008, de 23 de Setembro.
Lisboa 27 de Outubro de 2008

Pode assinar aqui.

24 outubro 2008

Gebalis e a campanha

Ao serem conhecidos os resultados da auditoria à Gebalis, houve quem, a correr, quisesse logo fazer aproveitamento político deste caso. Era outra vez a "herança santanista" na CML, o resultado da sua acção, etc.

Convém esclarecer desde já alguns pontos:

Os administradores em causa foram nomeados pela então vereadora Maria José Nogueira Pinto, então militante e autarca do CDS.
Tal aconteceu no mandato Carmona Rodrigues, já Santana não era Presidente.

Em relação a cada um dos administradores:

1) Francisco Ribeiro foi uma escolha pessoal de Nogueira Pinto.

2) Clara Costa foi indicada por..... Marques Mendes! Lembram-se? Pois, precisamente o senhor que falava da credibilidade e da ética, e que publicou recentemente um livro!

3) Mário Peças foi reconduzido, porque era o elemento do PS que já lá estava.

Recordemos uma célebre entrevista de Maria José Nogueira Pinto ao Expresso em 24.02.2007

"Nomeou Francisco Ribeiro para presidente da Gebalis. Continua a ter confiança na sua idoneidade e competência?

Como o vereador Sérgio Lipari tem 32 assessores do PSD, é interessante explicar o seguinte: eu não levei ninguém do meu partido para a CML. Pareceu-me que era importante ter à frente da Gebalis alguém que conhecesse a CML e que tivesse trabalhado na área social. Francisco Ribeiro, que é militante do PSD, era o director da acção social. O conhecimento que tinha dele veio da ligação que existiu entre a [Santa Casa da] Misericórdia [de Lisboa] e a CML nos três anos em que eu fui provedora [da Santa Casa]. Pareceu-me uma pessoa com grande qualidade profissional, humana e moral, muito conhecedor da câmara e daqueles problemas todos da habitação social e acção social. Depois, nomeei o segundo elemento do conselho de administração [Clara Costa], que me foi recomendado por Marques Mendes. E eu não tenho nenhuma relutância em aceitar recomendações de Marques Mendes, porque entrevistei a senhora e ela pareceu-me competente.

A recomendação foi directa de Marques Mendes? Ele telefonou-lhe a sugerir esse nome?

Foi-me passada pelo presidente da câmara. Ele disse-me que o presidente do partido tinha muito empenho em que aquela senhora fosse administradora da Gebalis. Entrevistei-a, contratei-a e não tenho nenhuma razão de queixa. Julgo que fez um bom trabalho. Por fim, mantive o elemento do PS [Mário Peças], que também me parece um homem de bom-senso e que conhecia bem a empresa."

Fica portanto claro que Santana não tem nada a haver com isto!

Dito isto, e sobre o processo queria apenas dizer o seguinte. Defendo que estas investigações vão até ao fim e que a verdade seja apurada. E se a justiça tiver que actuar, que actue.


Actualização: quem quiser ler o processo clique aqui.

21 outubro 2008

O que diz Marcelo...

No domingo assisti a mais uns comentários do Prof. Marcelo Rebelo de Sousa. E depois, fui ao site da RTP, e dei-me ao trabalho de voltar a ouvir alguns dos seus programas dos últimos meses para confirmar uma coisa.

E então veja-se: sobre a candidatura de Pedro Santana Lopes à Câmara de Lisboa, aqui ficam as muitas e diversas opiniões do Prof. :

1)
"Eu se fosse líder do PSD convidaria Pedro Santana Lopes para candidato a Lisboa"
RTP, 01.06.2008

2)
"É o melhor candidato do PSD". "Acho possível ganhar a António Costa"
RTP, 28.09.2008

3)
"À falta de melhor..."
RTP, 05.10.2008

4)
"Não há candidatos ideais, há candidatos possíveis"
RTP, 19.10.2008

Ou seja, todas estas opiniões num espaço de 4 meses.

Em que ficamos Prof., melhor ou possível? A sua escolha ou um erro?


Nota: este post foi deixado em comentário no blog do Prof Marcelo no Sol, solicitando-lhe o esclarecimento devido.

19 outubro 2008

Túnel do Marquês e chuvas...




Depois das chuvadas em Lisboa, com os estragos e inundações que se sabe, registe-se a notícia do site da RTP:

"Chuva faz inundações um pouco por toda a cidade de Lisboa

A chuva muito forte foi acompanhada de queda de "pedras bastante grandes de granizo", isto cerca das 15 horas, tendo a quantidade de água sido tão grande que o trânsito ficou um autêntico caos como foi o caso nos túneis do Campo Grande e das Avenidas João XXI e dos Estados Unidos da América.

A PSP informou que dos túneis existentes em Lisboa apenas não houve indicações de qualquer problema no túnel do Marquês de Pombal. "

Os túneis inundados, por acaso, foram os construídos no tempo da esquerda. Sem crises!
O Túnel do Marquês, obra emblemática de Pedro Santana Lopes, foi o que se sabe: embargos, críticas a torto e a direito, acusações de falta de projecto, irresponsabilidade, perigo, blá, blá blá...

Mais uma vez os factos encarregaram-se de mostrar a verdade!

Desculpem a expressão mas: TOMEM E EMBRULHEM!!

18 outubro 2008

Lendo os outros...


Depois da "Quadratura do Circulo" de ontem não vale a pena fazer qualquer comentário.
Por puro asco !
Luis Cirilo em Depois Falamos

O comentador Pacheco

O comentador Pacheco, que por acaso é militante do PSD, voltou a criar polémica ao comentar a candidatura de Pedro Santana Lopes à Câmara de Lisboa.

O comentador Pacheco discorda desta candidatura e diz que Santana é a cara da derrota de 2005.
Esqueceu-se porém de referir que ele foi um dos que ajudou à tal derrota de 2005.

Mas esquece-se também o comentador Pacheco que em política há derrotas e vitórias, e no curriculum de Santana, por mais que lhe custe, há mais vitórias que derrotas.
E há vitórias emblemáticas a feudos socialistas como a Figueira da Foz e Lisboa.

Já no CV do comentador Pacheco, que por acaso é militante do PSD, não encontramos nada disso. É pena, mas não encontramos. Encontramos uma passagem pela Distrital de Lisboa que o próprio define como: “a minha experiência mais desastrosa no PSD”. (entrevista ao DE em 24.08.2007)

Mas afinal, o que poderíamos esperar de alguém que, na ânsia de deitar um líder abaixo, não se coibiu de virar o símbolo do PSD de pernas para o ar? De alguém que, quando discorda, não olha a meios para atacar, e até com o símbolo do partido brinca?


Quando se esperava unidade e esforço para uma candidatura vitoriosa do PSD em Lisboa, lá vem o comentador Pacheco dar o ar da sua graça. E nada melhor do que começar logo a torpedear a candidatura do PSD à CML, sentado ao lado do candidato do PS a essa mesma Câmara.

O ar de António Costa durante a verborreia de Pacheco dizia tudo…

14 outubro 2008

“LISBOAGATE”: OS DESAFIOS DE SANTANA E COSTA

Vieram a lume diversas notícias sobre o processo de atribuição de casas camarárias durante o mandato Santana Lopes, cujo episódio, fazendo fé nas mesmas, encontra-se no quadro judicial, pelo que aqui apenas cabe comentar a sua valoração política. Desde já quero referir a minha qualidade de deputado municipal de Lisboa e, em particular, Presidente da Comissão Permanente de Habitação, Reabilitação Urbana e Bairros Municipais desta Assembleia, tencionando que a Comissão por mim presidida possa analisar esta problemática, numa perspectiva actual e programática, pois só essa cabe nas funções políticas do actual mandato.
Caberá obviamente à Justiça apreciar a distinção entre arbitrariedade e discricionariedade, sem dúvida que desnecessária pois é abundante o conhecimento sobre tal distinção, bem como a relevância de uma prática reiterada em moldes semelhantes ao longo dos anos e mandatos, independentemente das colorações políticas. Do ponto de vista político o que importa perceber é porque nessa sucessão temporal nunca houve a intenção de se proceder a uma auto-vinculação dessa discricionariedade, isto é a procura de definição de critérios que balizem a actuação dos decisores, como aliás é próprio da gestão pública, assente na proporcionalidade, imparcialidade, com vista a alcançarem-se situações justas e de igualdade.
Os responsáveis políticos nunca dimensionaram tal questão? Nunca definiram tal orientação aos serviços? E os serviços nunca sentiram dificuldades de atribuição e por isso não o propuseram superiormente? A responsabilidade política nunca pode ser assacada aos serviços, sobre estes quando muito haverá uma apreciação administrativa de falta de iniciativa, mas obviamente num registo de valoração de desempenho dos respectivos dirigentes e dos técnicos para efeitos de classificação.
Relativamente ao episódio relatado sob a gestão Santana Lopes, do ponto de vista político, importa dimensionar os possíveis efeitos duma recandidatura deste à presidência da Câmara de Lisboa. Com efeito recai sobre Ferreira Leite a decisão final, a qual pode ser lida sob diversos prismas, desde já saber se em função de um xadrez/calendário interno relativamente complexo lhe interessa que Santana Lopes seja ou não candidato. Ou também perceber se Ferreira Leite fica ou não refém da tese de Marques Mendes, num momento em que este regressa à política, o qual sempre advogou alguma conexão entre Justiça e Política que, grosso modo, tenho designado como “A presumida culpa política do presumível inocente jurídico”, tese essa que considero exagerada, não só em substância, como pela dualidade de critérios que o autor usou enquanto líder do PSD.
Esta mesma questão abre uma janela de oportunidade para António Costa, pois não pode ser politicamente indiferente a estas ocorrências, ainda que não tenham nascido neste mandato, mas perduram no mesmo. Claro que se percebe que está a agir mas, mais uma vez a actuação política não foi proactiva e antes reactiva, António Costa perdeu aqui uma oportunidade de antecipação, ficando a noção de que só agiu a reboque do que se apelida de “Lisboagate”, ainda se desconhecendo a dimensão das suas medidas.
Deste modo o importante não é apontar o dedo às situações casuísticas, mas antes assumir o enquadramento do interesse público para a questão em apreço. Importa assim definir os critérios de utilização para o citado património disperso, eliminando uma ideia de arbitrariedade feudal, auto vinculando a discricionariedade num sentido equitativo, com critérios, designadamente, se os requerentes desempenham ou não funções na autarquia, se possuem ou não qualquer grau honorífico concedido pela autarquia, quais os rendimentos auferidos, qual o agregado familiar, qual a actual situação profissional, pois só assim se reconquista a confiança dos lisboetas.

PEDRO PORTUGAL GASPAR (Presidente da Comissão Permanente da Assembleia Municipal de Habitação, Reabilitação Urbana e Bairros Municipais)

09 outubro 2008

Maior número de fogos cedido no mandato de João Soares


Lisboa, 09 Out (Lusa) - Os mandatos de João Soares (PS/PCP), entre 1995 e 2001, foram aqueles em que foram cedidas mais casas do património disperso da autarquia lisboeta no pós-25 de Abril, segundo a lista de atribuição de habitações.

De acordo com a lista do património disperso distribuída quarta-feira pelo presidente da Câmara de Lisboa, António Costa, aos vereadores, a que a agência Lusa teve acesso, existem 2.028 habitações, com três tipos de contratos: arrendamento habitacional (com contrato), habitação social (sem contrato) e cedência habitacional (sem contrato).

Nos mandatos de João Soares, entre 1995 e 2001, foram cedidas 281 casas, seguindo-se a presidência de Krus Abecassis (1979-1989), altura em que foram atribuídas 200 habitações.
Com Pedro Santana Lopes (PSD/CDS-PP) à frente da autarquia (Dezembro de 2001 a Julho de 2004 e, mais tarde, seis meses em 2005), foram cedidos 155 fogos, mais dois que no mandato de Jorge Sampaio (coligação PS/PCP, de 1989 a 1995).

No mandato de Carmona Rodrigues (PSD/CDS-PP), que esteve na Câmara de Lisboa oito meses entre 2004 e 2005 e entre Outubro de 2005 e Maio de 2007, foram atribuídas 112 casas.

No actual mandato, presidido pelo socialista António Costa, foram cedidos 69 fogos.

No mandato do primeiro presidente da autarquia eleito democraticamente após o 25 de Abril, Aquilino Ribeiro Machado, foram atribuídas 75 habitações, enquanto antes da revolução de 1975, foram cedidas 708 casas.

Os valores das rendas são muito díspares, existindo mesmo casas a custo zero: uma delas trata-se de arrendamento habitacional com prazo e com contrato cedida a 01 de Janeiro deste ano, na Freguesia de Santa Catarina.

Outro exemplo é o de uma casa de habitação social sem contrato, na Freguesia da Ajuda, com data de 01 de Maio de 2001.

A renda mais cara custa 610,05 euros mensais e trata-se de uma casa de habitação social sem contrato, cuja atribuição ocorreu a 01 de Novembro de 2001, em Santa Maria dos Olivais.
Há exemplos de contratos com quase cem anos: o de uma habitação em Santos-o-Velho com contrato de arrendamento habitacional datado de 01 de Dezembro de 1910, com uma renda de seis euros, e de uma casa cedida três dias antes, situada na Freguesia de São Cristóvão e São Lourenço, e com uma renda de quatro euros.

Os contratos mais recentes são de dia 01 de Setembro deste ano e dizem respeito a uma casa na Freguesia das Mercês, de habitação social sem contrato, além de uma cedência habitacional de um fogo na Freguesia de Santa Catarina, sem contrato.

A freguesia que concentra mais casas de património disperso da autarquia é a de Santa Maria de Belém, enquanto a Freguesia de Mártires tem apenas duas habitações.
ACL/PMC/JH.
Lusa/fim

07 outubro 2008

Ainda as casas da CML (2)

Lisboa/Casas: Comissão Municipal Habitação quer ouvir Ana Sara Brito
07 de Outubro de 2008, 09:16


Lisboa, 07 Out (Lusa) - A Comissão Municipal de Habitação vai pedir a audição da vereadora Ana Sara Brito para que a autarca explique se existem e quais são as regras para atribuir casas do chamado 'património disperso' da Câmara de Lisboa.

Segundo disse à Lusa o presidente da comissão, Pedro Portugal Gaspar, aquele órgão municipal reuniu segunda-feira ao final do dia e "foi unânime a necessidade de regras para atribuição das casas que fazem parte do património disperso da autarquia".

"Nalguns casos estas habitações até poderiam servir para realojamentos temporários, quando há obras que implicam tirar as famílias de casa e não há outra alternativa. Assim a Câmara não teria despesas extra", adiantou.

Pedro Portugal Gaspar disse que a comissão pretende igualmente pedir à autarquia que faculte todos os regulamentos existentes sobre a matéria.

"Vamos pedir à Câmara Municipal que nos dê o historial de toda a regulamentação que existe na autarquia sobre esta matéria, inclusive o regulamento que a ex-vereadora Maria José Nogueira Pinto disse que tinha deixado pronto", disse.

"É que a autarquia acaba por ser muito mais restritiva na atribuição de casas da área social, que tem regras muito rígidas, do que nesta", acrescentou.

Também no âmbito das casas do património disperso da autarquia, a comissão vai pedir a audição da vereadora Helena Roseta, responsável pela elaboração do Plano Local de Habitação, para saber quais são as suas propostas a este nível.

As decisões da Comissão Municipal de Habitação surgem quase um mês depois das primeiras notícias sobre a atribuição arbitrária de casas do chamado 'património disperso' da Câmara de Lisboa.

O caso já levou a vereadora socialista Ana Sara Brito, responsável pelos pelouros da Habitação eAcção Social, a dar explicações públicas sobre a casa em que viveu durante alguns anos e que também era propriedade da Câmara.

Também o presidente da autarquia, António Costa (PS), falou publicamente do assunto, tendo mesmo pedido à Comissão Nacional de Protecção de Dados um parecer sobre a eventual divulgação dos nomes de todas as pessoas a quem a autarquia atribuiu casas que pertencem ao 'património disperso'.
SO.
Lusa/fim

04 outubro 2008

Desesperos

O desespero de alguns à esquerda com a candidatura de Pedro Santana Lopes à Câmara de Lisboa é um bom sinal de que o PSD está no bom caminho para recuperar a autarquia da capital...

03 outubro 2008

A casa de Ana Sara (2)

"O caso de Ana Sara Brito é mais complicado. Porque Ana Sara Brito é neste momento vereadora, e porque era vereadora aquando da recepção da casa que o presidente Kruz Abecasis lhe arrendou em nome da autarquia, há 21 anos. Ana Sara Brito tinha obrigação de se interessar pelos critérios, pela igualdade e pela justiça. Porque tinha um cargo camarário e porque esse cargo era o da acção social. Sobre os critérios, porém, diz-nos hoje que "eram os da época". E da renda diz que era "legal". E que está "de consciência tranquila". Diz nada, portanto. Este triste assunto não deve transformar-se num auto da fé de B. B. e de Ana Sara Brito. Por todas as razões, sobretudo a de que o assunto é muito maior que eles. O que está em causa, e não será de mais repeti-lo, é o que de pior existe em qualquer administração pública - a opacidade, o favorecimento discricionário, a assunção dos bens públicos como propriedade de "quem está" e o seu tráfico entre escolhidos. Se em vez da "atribuição" de casas estivéssemos a falar da de envelopes de papel pardo com notas lá dentro, estaria já tudo aos gritos, a começar por Sá Fernandes e Helena Roseta, esses indomáveis campeões antinegociatas. Mas, como na lenda da Rainha Santa, o dinheiro está transformado em casas. Pode-se fazer de conta que não se passou nada."

01 outubro 2008

COMISSÃO PERMANENTE DE HABITAÇÃO DA ASSEMBLEIA MUNICIPAL - APRECIAÇÃO DA ATRIBUIÇÃO DE CASAS PELA CML

Como Presidente da Comissão Permanente da Assembleia Municipal de Habitação, Reabilitação Urbana e Bairros Municipais entendi necessário convocar uma reunião desta comissão para o dia 6 de Outubro, pelas 18.30, a fim de se proceder à análise desta problemática com as demais forças políticas, assumindo o meu papel de deputado municipal - fiscalizador do executivo - e neste caso com estas responsabilidades acrescidas, presidente da citada comissão permanente.
Parece evidente que a situação tem alguma sensibilidade, principalmente o designado "património disperso" o qual parece uma "bolsa feudal" de concessão arbitrária. Pretende a CML regulamentar tal questão como sendo um grande mérito, veremos em que termos e isso merecerá o nosso acompanhamento, mas desde já se retira a primeira conclusão que face a toda esta mediatização a CML só tinha que definir tal enquadramento, já não como um mérito excepcional, mas tão só para cumprir um dever mediano de acção política.
De facto não nos podemos esquecer que a acção de Costa é reactiva e não proactiva, logo retira-lhe todo o mérito de antecipação, com a agravante da sua vereadora Sara Brito estar no centro da polémica, bem como a chefe de gabinete do seu Vice-Presidente, segundo refere a impreensa, se encontrar igualmente numa situação análoga. Ou seja todo o quadro do "património disperso" era conhecido desde o início das funções, pelo que só existiria mérito se tivesse existido uma antecipação ao problema.
Neste momento, para além de se aguardar pelas citadas normas de enquadramento, importa também apreciar se a vereadora Ana Sara Brito, por quem tenho estima e amizade pessoal, tem condições políticas para assegurar a manutenção dos pelouros que lhe foram atribuídos sobre esta área. Aí sim também tem que existir um juízo político, tal como já o fez o PSD na Câmara Municipal (Fernando Negrão) e o PCP (Ruben de Carvalho), parecendo óbvia a fragilidade política em que a mesma se encontra para o futuro e deste modo importa reaquacionar a sua "legitimidade político-ético" na condução destas matérias.
Esse é o nosso dever de análise, essa é a nossa função de fiscalização política, principalmente quando pretendemos reconquistar os cidadãos para a política e neste caso em especial os lisboetas.

A casa de Ana Sara

Em primeiro lugar quero esclarecer que conheço a Ana Sara Brito há cerca de 10 anos, e tenho por ela respeito e consideração.

Nada me move portanto contra a Ana Sara, mas os factos vindos a público não podem deixar de merecer algumas notas.

Importa desde logo esclarecer que a questão é política e não tem nada de jurídico ou criminal.

É verdade que até hoje nunca existiram, e ainda não existem, regras para atribuição, ou melhor, cedência de fogos municipais, pertencentes ao “património disperso”. Tal era um poder discricionário da tutela do pelouro da habitação na CML. E foi usado por todos ao longo de 30 anos. Acredito que a esmagadora maioria das cedências feitas tivessem sido de facto a quem precisava.

Segundo a imprensa, Ana Sara arrendou a casa à CML, sendo na altura Vereadora com pelouros. Para além do cargo político, é enfermeira de profissão. Manteve a casa durante 20 anos, com uma renda que em Dezembro de 2007 era de 146,25 €/mês. Estamos a falar de um T1 no centro de Lisboa. Ainda segunda a imprensa, Ana Sara recebe uma reforma de 3.350€/mês.

Podia e devia ter tido a casa ao longo destes anos? Obviamente que não!

Não só deveria ser constrangedor um autarca ver-lhe atribuída uma casa pelo município onde exerce funções, como também os rendimentos auferidos não justificam essa benesse e a baixa renda cobrada.

Mas para agravar esta situação já de si “muito delicada”, na conferência de imprensa que convocou, Ana Sara Brito alegou motivos pessoais para a cedência do T1 que se escusou a esclarecer. Numa questão destas, para mais tratando-se de uma vereadora em funções, não há questões pessoais. Sobretudo quando está em causa património da Câmara.
A partir de agora qualquer munícipe tem legitimidade para ir a uma reunião de Câmara e pedir que lhe seja atribuída uma habitação por “motivos pessoais”. E aposto que a maior parte dos pedidos são de agregados cujos rendimentos nem devem chegar a 1/3 de 3.350€/mês. E qual é a legitimidade ou autoridade da Vereadora Ana Sara para lhe dizer que não?

Na conferência de imprensa, e questionada se passados 20 anos quando auferia uma pensão que, segundo a declaração de rendimentos que entregou em 2006 no Tribunal Constitucional, se eleva aos 46.883 euros anuais, ainda tinha necessidade de uma renda camarária de 146 euros, a Vereadora limitou-se a dizer que não era uma habitação social. Muito bem, mas sendo ou não social, qual a razão para, com os rendimentos declarados, estar a ocupar um imóvel da CML com uma renda tão baixa? A legalidade da situação até não está em causa, mas politicamente é admissível? É sustentável?

Por último, Ana Sara terá ainda dito na conferência de imprensa, que estava de consciência tranquila e que apenas prestaria contas à população que a elegeu no final do mandato.
Também aqui esteve mal. O executivo camarário deve prestar contas perante a Assembleia Municipal, que é o órgão fiscalizador. Nomeadamente para tudo o que envolva questões de património municipal. Ana Sara, que é autarca há muitos anos sabe-o muito bem.

Posto isto, Ana Sara Brito não tem condições políticas para continuar com os pelouros que tutela. A sua consciência pode estar tranquila. A confiança de António Costa pode ser total. Mas a sua autoridade está seriamente posta em causa. Sobre isso não há qualquer dúvida!