08 abril 2009

QUAL O PENSAMENTO POLÍTICO DE sÓCRATES?

Reproduzo o artigo que hoje publiquei no "Diário Económico", na tentativa de interpretar o pensamento político de Sócrates, o actual, não o clássico, claro:
"SÓCRATES CONTRA MONTESQUIEU
No final do primeiro trimestre deste ano ocorreram dois eventos relativos ao PS, significativos para o futuro político nacional próximo, a saber o Congresso Partidário e o 4º aniversário da vitória eleitoral de 2005.
Relativamente à última questão - balanço da acção governativa - muito tem-se escrito, obviamente com apreciações diferentes, mas quase todas consensuais em que o país não evoluiu, distanciando-se mesmo da Europa Comunitária durante este período governativo. Assim, não obstante a existência de uma maioria absoluta, as reformas estruturais na sua maioria falharam, normalmente porque conduzidas de forma autoritária e sem envolvimento dos profissionais dos sectores (v.g. justiça, ensino), denotando uma inexistente perspectiva de política-gestionária, confundindo-a aliás com uma noção básica e já datada de política-autoritária, não existindo aliás esta quando deveria surgir, designadamente em matéria de segurança pública.
Logo não é de estranhar a situação em que o país se encontra, sendo necessárias soluções para ultrapassar o impasse, daí a relevância do Congresso do PS, como forma de alavancar uma dinâmica de vitória com vista a nova maioria absoluta. Deste evento conclui-se, como se não fosse já sabido, que quando não há matéria não há forma que o disfarce, isto é, o decorativo e o acessório nunca suprimem a essência, mesmo em tempos, como os actuais, de política-espectáculo, pois quando passa o efeito mediático nada fica para o debate. Com efeito, eleger o casamento entre homossexuais e a regionalização como grandes desafios programáticos, revela uma falta de ambição e originalidade, pois não só é um requentar temático, como denota uma tentativa de liderança fracturante que se encontra nos antípodas das preocupações dos portugueses.
Assim percebe-se porque Cravinho e Alegre se afastaram de tal conclave, não só porque não se identificam com as opções tomadas, como temem, muito à semelhança do que se passou com o PSD de Cavaco, que quando o leader sair, ao tempo Cavaco no PSD, hoje Sócrates no PS, o partido ande numa deriva absoluta, demore vários anos a encontrar-se e a surgir como alternativa credível. Claro que Alegre ambiciona águas mais vastas, a designada “grande esquerda”, eventualmente uma neo-Frente Republicana e Socialista, ou mesmo a certeza de construir uma efectiva FRS e não uma experiência efémera e precipitada, como Soares o fez ao tempo, para combater a AD de Sá Carneiro.
Mas do Congresso, relativamente ao episódio Freeport, surgiu um elemento interessante, revelador de uma concepção política de Sócrates oposta a Montesquieu, precisamente quando assumiu que o voto popular seria suficiente para eliminar as dúvidas que tal processo pudesse encerrar em si. Ora admitir isto, ou perspectivar tal solução, equivale a negar o princípio da separação de poderes, principalmente daquele que constitui o último garante e esperança na construção de um Estado de Direito, precisamente o poder judicial. Claro que Sócrates deverá ter querido apenas dar um sinal de resposta política ao que, no seu entender, tem constituído um aproveitamento ou insinuação política de uma matéria que para ele se encontra completamente resolvida e ultrapassada.
O ataque e antecipação constituem duas importantes qualidades, tanto na política, como na liderança gestionária, mas subsequentemente importa avaliar a motivação e pensamento subjacente. Neste caso Sócrates revelou não ser um apreciador de Montesquieu, dir-se-ia mesmo que seu opositor, ficando-se sem saber que doutrina professa, possivelmente a de Locke, que também defendia a separação de poderes, mas apenas reconhecia dois, recorde-se o legislativo e o executivo. Mas então que dizer deste pensamento em situações, como a actual, quando o executivo pede maioria absoluta em sede legislativa e simultaneamente sugere o plebiscito de certas questões judiciais?
(PEDRO PORTUGAL GASPAR, Mestre em Ciências Jurídico-Políticas FDUL, Docente Universitário).".

3 comentários:

António Lopes da Costa disse...

Pensamento político? Sócrates? Não será isso uma contradição?

Bairro de Santa Engrácia disse...

(declaração)

É com muita pena que venho aqui transmitir que o blog do Bairro de Santa Engrácia e o seu hi5 terminaram hoje. E hoje porque terminou um ciclo da batalha do João Mota Lopes na freguesia, após a apresentação da sua demissão.

O blog e o hi5 cumpriram a missão de fazer despertar algumas vozes que continuam a não aceitar determinadas injustiças mas acredita-se que este novo rumo ditará um novo destino a um dos principais visados da história recente desta freguesia e com este desfecho, crê-se na clarificação da sua verdade e num novo caminho que servirá acima de tudo para honrar o seu bom nome.

Questionou-se o que tinha que se questionar, as respostas já eram conhecidas por alguns mas este volte-face inteligente permitirá aos santos engracianos sairem esclarecidos sobre as coisas que até à data não conseguiram obter qualquer justificação.

Ao João e a todos os que protagonizaram esta batalha, deseja-se força e coragem para seguirem em frente. Os que acreditaram no João e o defenderam através do blog, do hi5 e em conversas de bairro e café continuam a dizer "estamos aqui, meu amigo, conta connosco".

Reforçamos, contudo, a nossa vontade de continuar a ver esta Junta na esfera social democrata e essa é a batalha que se segue.


N.B.: muitos sabem de quem foi a ideia destes espaços de intervenção. Ao contrário do que alguns julgaram, o João Mota Lopes nunca teve nada a ver com isso.
Quando se acredita em alguém, não é necessária a participação dessa pessoa para levar a cabo uma intenção. Esta foi uma frente de combate só possível porque houve quem continua a não ter medo de dar o corpo às balas e acredita nele apesar das discussões que nem sempre chegaram a bom porto. Mas do
que muitas vezes não se compreende a princípio, nasce a luz. E dessa luz, o respeito e a força.

Um obrigado por todos nós, João. Para mim, em nome próprio, começou em Santa Engrácia o que agora também termina. Que sigas em frente, com o bom coração que te move. Porque a tua audácia, por vezes controlada, fará com que alcances as tuas merecidas vitórias.

Anónimo disse...

Pensamento político?

mas algum analfabeto tem pensamento POLÍTICO?????????????

Como é possível este país levar este arrivista a sério??????????