06 novembro 2008

TORNA-SE URGENTE REPENSARMOS O PSD

Reproduzo aqui o artigo que hoje publiquei no Diário Económico, em que me parece urgente que o PSD redefina alguma da sua orientação estratégica, pois sem dúvida que se tem perdido tempo em querelas menores e, também, nalguma omissão ideológica
"PSD: ESTRATÉGIA OU TÁCTICA?
O longo período de ausência do PSD do poder exercido de forma consistente e não efémera, como ocorreu em 2002, tem suscitado ansiedade nos pares, especulação dos adversários e expectativa dos eleitores. Substituídos vários líderes, certo é que no presente a actual direcção apostou numa forma diferente de oposição, opção legítima, mas que gera diversas interpretações.
Antes de se discutir uma questão tão imediata, importa entender a especificidade do PSD, nomeadamente alguma indefinição entre o seu Programa e Manifestos Eleitorais, ou mesmo práticas governativas já executadas. Marques Mendes entendeu a questão e iniciou a revisão/actualização do Programa, mas a tentação de balcanização não lhe permitiu estar ao nível de tal desiderato. Menezes também não teve melhor sorte, pelo que recai sobre Ferreira Leite a concretização de tal desafio.
A revisão/actualização do Programa não deve ser confundida com a apresentação dum manifesto eleitoral, pois a primeira é estrutural, a segunda conjuntural, a primeira encerra estratégia e a segunda táctica, a primeira perdura para além dos líderes, a segunda não. O PSD carece de reidentificação, de estratégia, de densidade ideológica, sob pena de não apresentar um grau de fiabilidade e de confiança junto dos eleitores. De facto, o que se tem assistido é, em nome de uma reorientação, ocorrer uma substituição de protagonistas, numa verdadeira purga subjectiva, sem que isso acrescente nada ao debate e reflexão política.
O PSD não tem um lastro ideológico de referência internacional como por exemplo o PS, ainda que este quando exerce o poder normalmente coloque tal referencial na “gaveta”, mas permite-lhe invocar, sem grande dificuldade, um quadro valorativo e ideológico consistente. Aliás, algumas tensões que hoje se assistem no PS têm precisamente a ver com a dicotomia entre pragmatismo governativo e referencial ideológico, normalmente com vantagem para o primeiro, o que se explica pelas vantagens do exercício do poder. Ora um partido como o PSD, designado como de “eleitores e de militantes”, também a nível organizativo com alguma indefinição, aliada a uma referência ideológica muito nacional, sem grandes referenciais histórico-internacionais, necessita imperiosamente de algum encontro com ele próprio, pois só assim poder-se-á relançar numa dinâmica de alternativa consistente.
Cabe ao PSD, no quadro dos desafios do Século XXI, não só ideológico-filosóficos, mas também nas políticas sectoriais, reflectir e redefinir a sua matriz, bem como o seu posicionamento nas grandes questões que afectam a sociedade onde, hoje, para além do fim do socialismo de planificação também se questiona a falência do capitalismo puro, ou pelo menos a necessidade de uma intervenção pública em momentos de crise, sob pena de colapso do mercado e de insegurança dos cidadãos. Assim, o terreno é fértil e reclama soluções, permitindo que o PSD parta para este debate sem amarras, sem ideias pré concebidas, o que é uma grande oportunidade, haja pois vontade e empenho para concretizar, pois há muitos valores no PSD, nem sempre aproveitados.
Complementarmente deve surgir a proposta eleitoral da actual direcção, em coerência com a estratégia traçada, que apresenta o programa de governo, podendo a sua divulgação ser perto das eleições, como é pretendido, pois entretanto o PSD ganhou a necessária densidade ideológica. Então faz sentido que se faça primeiro o balanço da acção do PS, do qual não pode ser isento, para depois se apresentarem as alternativas, pois já foi definida a estratégia e posteriormente é divulgada a táctica.
Assim não há o risco do aparente deserto ideológico, principalmente quando a inexistência da intervenção, quer estratégica, quer táctica, encontra-se no centro do debate político, ao qual o PSD tem que dar uma resposta política consistente e urgente.
PEDRO PORTUGAL GASPAR (Docente Universitário, Mestre em Ciências Jurídico-Políticas, Faculdade de Direito de Lisboa)".

3 comentários:

Anónimo disse...

A esta notícia do Santana de volta a Lisboa, e para memória , aqui ficam estas (sábias) palavras extraídas do Artigo de Cavaco Silva In "Expresso", de 27 de Novembro de 2004:


Mas talvez a razão mais forte do afastamento das elites resida na ideia de que, nos dias de hoje, o mercado político-partidário não é concorrencial e transparente, de que existem barreiras à entrada de novos actores, de que não são os melhores que vencem porque os aparelhos partidários instalados e os oportunistas demagógicos não olham a meios para garantir a sua sobrevivência nas esferas do poder. A ser assim, a lei da economia, conhecida pela lei de Gresham, poderia ser transposta para a vida partidária portuguesa com o seguinte enunciado: os agentes políticos incompetentes afastam os competentes.

luis cirilo disse...

Acho que o teu artigo abre algumas pistas interessantes para reflectir o futuro do PSD.
Duvido é que no actual contexto mdo partido exista interesse nisso.
Quando até questões simples de pensar,como a óbvia candidatura de PSL a Lisboa,provocam tanto "fumo" e indecisão.

Anónimo disse...

Pois parece que o Cavaco tem razão: viu-se ao espelho!