20 maio 2008

O discurso da credibilidade (parte III)

Tem sido recorrente o uso da expressão “credibilidade” pela Dra. Manuela Ferreira Leite na campanha das directas.
Mas esta não é nem a primeira, nem a segunda vez que tal acontece.

Recuemos então um pouco no tempo.

Em 2005, após o anúncio da demissão de Pedro Santana Lopes na sequência das legislativas, a campanha para a liderança do PSD foi já marcada por essa expressão. Luís Marques Mendes surgia então, segundo o próprio e os seus apoiantes, como o garante da credibilidade do partido, por oposição à anterior liderança.
Marques Mendes foi eleito em Pombal, iniciando assim um período de “credibilização” do partido. Passámos então a ter um PSD sem chama, sem vigor, mas cheio de notáveis e de “sentido de Estado”. As sondagens eram todas desoladoras e o desânimo atingiu a esmagadora maioria dos militantes.
Pelo meio, e sempre em nome da credibilidade, fizeram-se purgas internas e recusaram-se filiações de militantes conotados ou familiares de quadros do PSD que estavam contra Marques Mendes.
A coroa de glória desse período de “credibilização do partido” foi o processo Câmara Municipal de Lisboa. Acusou-se na praça pública quem a justiça apenas considerava arguido e fez-se cair uma Câmara Municipal do PSD.
À “credibilização” do partido, os eleitores de Lisboa responderam com 15% dos votos, colocando o PSD como terceira força, ironicamente atrás daqueles que fez cair. A Câmara de Lisboa voltava então às mãos do PS por inabilidade e irresponsabilidade dos dirigentes nacionais e distritais de então.

Na sequência desta enorme derrota, convocam-se eleições directas. Volta a dicotomia credibilidade vs falta dela. Marques Mendes recandidata-se e volta a fazer da credibilidade o seu trunfo eleitoral. Os militantes do PSD dão-lhe uma resposta semelhante aos eleitores de Lisboa, e o candidato “credível” perde as directas, por uma margem considerável e contra todas as expectativas da comunicação social e comentadores.

O resto da história todos sabemos como é, e assim chegamos às directas de 31 de Maio.

Mais uma vez aparece uma candidatura da “credibilidade”, supostamente unificadora, e apresentando-se como sendo a única que pode salvar o PSD do abismo. Ideias e programa, esses são para apresentar depois das eleições. O que interessa agora é a “credibilidade” da candidata e a “credibilização” do partido.
É um cenário déjà vu, mudando apenas o protagonista principal, e adicionando alguns notáveis que não estavam com Marques Mendes, com o problema acrescido de a candidata não o ser por vontade própria mas por obrigação e/ou dever de consciência.

Eu, pela minha parte, nunca engoli a conversa da “credibilidade”. Estou mesmo farto dela, e penso que os militantes também.

Isto já para não falar da arrogância que tal discurso tem subjacente. Para quem recusa a linguagem “barões/bases”, apresentar-se como o único garante da credibilidade, não está mal…

1 comentário:

Anónimo disse...

Espero que permitam esta ousadia, mas depois de ler isto num blog que não é de Militantes do PSD, achei interessante mostrar o que pensa quem não esta por dentro do que passa no PSD

"Cirque du PSDei
As eleições no PSD estão com tanto interesse, mas tanto interesse, que não me ocorre nada para dizer.

Ferreira Leite é o que se conhece. O clã cavaquista apanhou um susto e gritou para o seio: «ai que isto vai parar outra vez às mãos do Lopes». Começaram logo a pensar em nomes. E então Pacheco gritou: «Manuela». E Cavaco disse: «por mim tudo bem».

Santana Lopes também se conhece. Apanhou um susto e gritou para os malucos que o acompanham: «ai que isto vai parar outra vez às mãos do clã cavaquista». Começaram logo a pensar em nomes. E então um maluco disse: «Lopes, tens de ir tu». E o Lopes disse: «por mim tudo bem».

Passos Coelho não se conhece. Ia mostrar-se e acabou por se revelar. E não esconde a projecção precoce. O lema da campanha é «o futuro é agora». Mas estão enganados. Agora é o presente. O único futuro que é agora é o do próprio Passos Coelho, que apontava o apogeu para uma década adiante e quando deu por ele estava sentado em frente à Judite de Sousa.

Mas o pior é que de vez em quando vão surgindo umas ideias e os políticos com ideias são ainda mais chatos. O povo gosta é de malta como o Jorge Coelho, que andou sempre a apanhar bonés (capacetes de trolha, mais recentemente).

Ideias para quê? O Lopes quer reduzir o peso do Estado – por exemplo – mas os portugueses, nos últimos dez anos, não ouviram falar noutra coisa. Querem todos reduzir o peso do Estado, mas quando dão conta do manancial, cala-se tudo. Ninguém se atreve a encerrar os mil institutos e empresas públicas que albergam broncos e palermas, todos com carreiras indexadas à pública chulice.

Assim, digo, sobre as eleições no PSD, que espero um acontecimento invulgar, que permita não encontrar vencedor. Não sei do que é que estou a falar. Assim uma coisa estranha, tipo: os militantes votam, tudo muito bem, e depois da contagem não se consegue encontrar vencedor. Ficam a olhar uns para os outros sem perceber nada…

Termino com uma palavra para aqueles dois outros candidatos do arco-da-velha: reconheço o esforço, mas se era para a gente se rir, os cabeças de cartaz chegavam."

in LOBI